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“A guerra ainda não acabou” – In Jornal Público

Notícia retirada do jornal Público:

Paulo Guerra, 50 anos e Cláudio Guerra, 45 anos. J. Guerra – Fábrica de Sirgaria e Passamanarias, Oliveira do Hospital.

Joaquim Guerra fundou a empresa de sirgaria e passamanaria com o seu nome há 60 anos. Agora tem 82, já passou a empresa aos filhos, Cláudio e Paulo, há uma dezena de anos, mas a verdade é que ainda é por lá que gosta de andar. Não se consegue afastar. Acabou, também por ser ele a ter de “salvar” a empresa do encerramento definitivo, já que foi do seu bolso que apareceu o dinheiro que foi preciso para garantir que a empresa não fechava. Com 50 postos de trabalho, a J. Guerra conseguiu segurar quase todos — “só saíram dois ou três funcionários, que já estavam aptos para a reforma”, diz Paulo Guerra. 

Cláudio e o irmão, Paulo, já apresentaram à linha criada pelo Governo para a reposição da actividade produtiva um projecto de investimento de quase 10 milhões de euros, para assegurar que a empresa poderá regressar ao terreno com quase 12 mil metros quadrados que ardeu por completo na zona industrial de Oliveira do Hospital. Entretanto, já têm mais de 1,5 milhões de euros gastos. No trabalho de remoção e limpeza dos escombros — no qual os funcionários foram chamados a colaborar passados 15 dias após os incêndios — e também na compra e adaptação de um pavilhão com três mil metros quadrados e na aquisição de máquinas para continuar a trabalhar.

É importante que o mercado saiba que a J. Guerra ainda não acabou. Ainda estamos aqui. Vamos continuar a lutar, para voltar a abrir a fábrica no sítio onde estava

Paulo Guerra

que responde à pergunta sobre se conseguirão repor toda a capacidade produtiva com uma palavra só: “É impossível”. “O nosso pai andou 60 anos a comprar máquinas, tínhamos um parque de 450. Não vamos conseguir isso nem nos próximos anos”, admite, frisando que o problema não é apenas recuperar máquinas que não se fazem em mais lado nenhum. Actualmente, já compraram cerca de 90. Dizem que para trabalhar em velocidade cruzeiro precisam de 150 máquinas. “Tivemos de reajustar a produção. Já desistimos de uma linha de produtos. E também tivemos de ajustar horários, e pedir mais esse sacrifício aos trabalhadores. Temos o mesmo pessoal, e menos máquinas. Criamos dois turnos para podermos continuar a trabalhar, a responder a clientes e voltar a fazer stock”, explica.

O projecto de investimento foi apresentado há duas semanas, quase no limite do prazo das candidaturas à linha de apoio público, que foi alargado até 28 de Outubro. “Estas coisas demoram sempre o seu tempo, apresentar projectos, assegurar licenças, manter uma fábrica a trabalhar, segurar clientes, é uma grande empreitada”, justifica-se Paulo Guerra. Se o projecto for aprovado, e conseguirem o financiamento máximo, receberão 8,5 milhões de euros.

Cláudio Guerra, de novo a passear entre os escombros que o incêndio deixou na zona industrial, aponta para a escadaria da porta principal que ficou de pé, depois dos esforços de limpeza e demolição.

Achamos que valia a pena aproveitar esta portaria, para ficar como símbolo do que aqui estava e que, queremos nós, poderemos dizer que não se perdeu. O meu desejo é que o meu pai ainda possa subir aquelas escadas, e entrar na fábrica que ele aqui abriu há 28 anos. E esperemos que ela aqui fique por muitos outros 28.

Cláudio Guerra
Retirado do jornal PÚBLICO